Costuma estar ao
sol, de pé, junto à porteira
Da fazenda, onde,
escravo, arrastou toda a vida.
De um dos olhos é
cego, e já do outro a cegueira
Lhe vai grudando à
face a pálpebra caída.
Se esboça a secular
ossada quase inteira.
E a aparência ele
tem, esguia e denegrida,
De um tronco
solitário em queimada clareira.
Dizem que ensandeceu
de dor no mesmo dia
Em que morreu seu
dono; outros, de nostalgia;
Outros, que é
feiticeiro e simula mudez,
Porque, às vezes,
lhe vem súbita vida estranha,
E ele pula e
descanta e risos arreganha,
E ágil ginga no jogo
ao batuque dos pés.
O africano
Por Mário de Alencar