“PARA MIM, POESIA NÃO É INVASÃO OU FUGA, MAS SIM LIBERDADE CRIADORA,
LUGAR INTEMPORAL DE TODAS AS POSSIBILIDADES. PODE E DEVE SUBVERTER, SUBLIMAR,
EXALTAR E DESPERTAR…
A POESIA É REFLEXÃO, É UM UNIVERSO SEM FIM.”
— Arminda Lopes


.
_______________________________
_______________________________

O africano – Por Mário de Alencar

Costuma estar ao sol, de pé, junto à porteira
Da fazenda, onde, escravo, arrastou toda a vida.
De um dos olhos é cego, e já do outro a cegueira
Lhe vai grudando à face a pálpebra caída.





















Do corpo seminu, sob a pele entanguida
Se esboça a secular ossada quase inteira.
E a aparência ele tem, esguia e denegrida,
De um tronco solitário em queimada clareira.


Dizem que ensandeceu de dor no mesmo dia
Em que morreu seu dono; outros, de nostalgia;
Outros, que é feiticeiro e simula mudez,

Porque, às vezes, lhe vem súbita vida estranha,
E ele pula e descanta e risos arreganha,
E ágil ginga no jogo ao batuque dos pés.

O africano
Por Mário de Alencar

SEGUIDORES

AS 10 TROVAS MAIS VISITADAS