Nosso poeta Joaquim Saial, nos brindou uma
interessante e observadora trova, onde numa pachorrenta madrugada, narrou a
natureza em movimento;
"Poema Inédito"
"Poema Inédito"
Os quatro elementos
Era ainda noite
cerrada,
quando o poeta se
levantou.
Urinou,
descarregou o
autoclismo,
lavou as mãos,
bebeu água
e, através da
janela,
viu a chuva
e o rio que ela
engrossava.
O vento soprava ameaçador,
O vento soprava ameaçador,
fazendo estalar o
arvoredo
e a roupa esquecida
nos estendais.
Abanava telhas,
águas-furtadas,
para-raios
e cataventos
e fazia remoinhos de
folhas no ar.
Para aplacar a insónia,
Para aplacar a insónia,
o poeta colocou um
tronco na lareira,
acendeu-a e acendeu
nela um cigarro,
antes de ver uma
reportagem na tv
sobre os incêndios
desse verão.
Já raiava a manhã,
Já raiava a manhã,
quando a tempestade
amainou
e ele saiu para a
horta,
para sentir o cheiro
da terra molhada
e ver como o barro
descido da encosta
lhe melhorara a
propriedade,
tapando covas que
antes tinha.
O sono voltou ao poeta.
O sono voltou ao poeta.
Mas antes de
adormecer de novo,
decidiu ali mesmo
que o último poema
do livro que estava
a acabar
se intitularia
"Os quatro elementos",
banda visual da sua
insónia.
Sinopse
“Poemas para a hora
de ponta” apresenta-nos 40 peças que oscilam entre o documental e o
fantástico, lirismo discreto e momentos de dramatismo, humor e sarcasmo. É num
antigo e assumido gosto do autor pelos textos intensamente americanos de Sam
Shepard (sobretudo da sua poesia) e na poética da música (Dylan, Neil Young…),
para além da inspiração oferecida por portugueses como Mário-Henrique Leiria,
que reside a origem desta variada e sedutora panóplia de produções.
A ode primeira, que
faz jus ao título do livro, é acertada abertura para uma poesia de índole
urbana (algo lisboeta) em que o autor, uma vez por outra, surge como narrador.
Porém, percebe-se que prefere apresentar ao leitor a maior parte das peças
como anónimos painéis de fruição, em registo quase
cinematográfico, que prendem e fascinam.
Os notáveis desenhos
de João Ribeiro entrelaçam-se magistralmente no universo poético que Joaquim
Saial nos traz, fazendo desta uma obra inesperada e assaz convidativa, afinal
passível de ser lida a qualquer hora… até na hora de ponta.
SOBRE O AUTOR
JOAQUIM SAIAL
Joaquim Saial (1953, Vila Viçosa), é mestre em História da Arte
(UNL) e licenciado em Ciências Humanas e Sociais (UNL e ISSS-Lx).
Bolseiro da FCG e docente dos ensinos médio e universitário (INP e
UCP-Lx), publicou “Estatuária Portuguesa dos Anos 30 – 1926-40”, Bertrand
Editora, Lx, 1991; “Manuel Gamboa. A Arte por Vida”, C. M. Lagoa (Algarve),
1998; “Capitania, Romance de Cabo Verde”, Editorial Notícias, Lx, 2001 e
“Seixal. Arte Pública”, C. M. Seixal, 2009 (esgotados).
Participou noutros sete livros. Centenas de artigos em publicações
de Portugal, Cabo Verde, Espanha e Roménia e em catálogos de arte, dezenas de
palestras sobre arte, cultura e história e diversas outras actividades, na área
da cultura e arte, em Portugal e no estrangeiro.
Informações sobre o Livro “Poemas para a hora de ponta”, poderão
serem adquiridas no endereço para correspondência:
Cordel d' Prata
Avenida Tomás Ribeiro Nº47, 1ºB
Carnaxide, Lisboa 2790-463 - Portugal